Tuesday, August 28, 2007

Um outro olhar sobre a alma




As mãos. São a nossa forma de mexer no mundo, sendo que a forma como o fazemos acaba por nelas se reflectir... assim, umas mãos de guerreiro encerram em si marcas disso, ou uma mão de princesa generosa tem em si o carinho que semeia em seu redor. Não há nelas marca de actividade própria.... são a extensão que submetida a emoções e pensamentos faz mundo do mundo que há.

Em termos antropológicos salienta-se a libertação/contraposição do polegar como responsável pela capacidade manipulatória.

Em termos de cirurgia estética as mãos são um impossível... querem saber a idade de alguém reparem nas mãos...

Em termos estéticos, permitam que as apresente como passíveis de uma tal harmonia que muito dificilmente pode ser ultrapassada. Não são só cinco dedos, mas cinco unhas, e catorze articulações com 2 perspectivas, interior e exterior... na palma há linhas, pequenos montes e enrugados. Se uma impressão digital nos distingue de qualquer outro ser humano... e se forem cinco? Dez? E a conjunção de todos os elementos? Um composto capaz de funcionar como marca divina, ao mesmo tempo que, basta um pequeno pormenor em divergência com o conjunto para que se perca toda a beleza. Uma simples dissonância e toda a melodia celestial passa a ser ruído, barulho, desconforto.

Não, não... as mãos da minha mãe, por exemplo são belíssimas... sublimes. São calejadas mas nos seus calos são marcas do seu trabalho honesto e dedicado; tem dedos tortos mas as linhas do desvio são esplêndidas na sua delicadeza. Quando acarinha a aspereza do seu toque é deliciosa.

Não, não... só queria que ficasse evidente que umas mãos excelentes (chamemos-lhe “mãos-de-mãe”) estão longe de ser as de um qualquer anúncio a um qualquer creme... se se reparar de perto há ali futilidade, vaidade e um cuidado em mascarar algo.

Não, não... já vi muitas mãos, foi o meu pai que me ensinou a olhar para elas... sondo-lhes, quando possível, cada detalhe... perscruto as de quem quero avaliar o valor enquanto pessoa... e a sorte que eu tenho tido com isso!!!!!

Ah! Depois há as segundas... os pés. Sim também são umas mãos... podem andar escondidos mas estão lá... podem ser bonitos mas não belos... Acredito que anunciam de forma quase mágica o interior de quem suportam... é a própria Terra que treme por debaixo da alma que segura os meus dois pés quando me é permitido contemplar pés... mas pés-de-mãe.
Não, não... jamais substituem ou sequer desobrigam de uma investigação às mãos... pois nos pés há todo um lado de indizível... só uma sensibilidade apurada ao requinte poderia dar-se ao luxo de o fazer... sobre estas outras mãos, confesso que tento analisar e avaliar mas os critérios que utilizo são-me estranhos a mim próprio...

Conheço quem adore praia pois que à beira mar (onde não se enterram) sondar pés de gente... claro que não se trata de um desvio de comportamento, uma parafilia qualquer... é apenas uma forma diferente de ver as pessoas. Uma perspectiva diferente sobre o coração. Sempre tomei os conselhos deste meu amigo por bons... curioso é que me procura quando quer opinião sobre determinadas mãos. Disse-me que também os meus pareceres são válidos...

Talvez sejamos os doidos tontos... talvez apenas atentos a aspectos essenciais que de forma mais transparente revelam os fundos e profundos de alguém.

Wednesday, August 15, 2007

João



Era um rapaz que um dia resolveu escrever uma carta...

Queria libertar tudo aquilo em que pensava... aquilo que sonhava... aquilo que tanto o fazia sofrer... queria libertar tudo isto e escreveu:




João:

Sei que aquilo que sonhas jamais se concretizará, e por isso tanto sofres... sofres ainda mais pelas tentativas que fazes para te habituares, ou melhor, para tentares contentar-te com o que tens...

Não sei o que te posso dizer, pois no fundo tu és eu, e sei o que se passa contigo, e muito melhor do que ninguém... no entanto, João, luta, não te contentes com o que tens e não te contenta... luta pelos teus sonhos e se tal batalha te for desfavorável... pelo menos tentaste, e isso... isso não sei se vai ser melhor se pior do que o que agora sentes...

Um abraço,

João.




Passaram anos e o João nunca se submeteu totalmente à sua (triste) realidade, assim como nunca lutou com todas as suas forças... e chegou o dia em que se tomou a decisão fracturante... em que chorou e em que fez o que não sabia bem o que era... Fugiu...


Fugiu da realidade e do sonho, correu tão depressa que não se deixou apanhar por aquele que fora outrora...

Não se soube mais nada... nem do João nem daquele que lhe fugiu... a não ser que o que há de mais certo é que todos temos que morrer... morrer no real, morrer nos sonhos e morrer na fuga...

Gostava tanto de saber daquele de que o João fugiu...

-...João!?!... João!?!

- O João morreu e o outro também... mas o Outro não.





Sunday, August 05, 2007


Encontrarás o sentido da tua vida
se fores capaz de a contar
como uma história de amor.


Nuno Tovar de Lemos, O Príncipe e a Lavadeira.