Saturday, June 05, 2010

Pe. João

foto de Enric Vives-Rubio

"Não tenha medo de ser feliz!"

Pe. João






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Thursday, June 03, 2010

Padre João


O Padre João Resina, a pessoa que mais admiro no Mundo, morreu hoje.

João Manuel Resina Rodrigues nasceu no dia 5 de Outubro de 1930 em Oeiras.

Não me recordo de quando o conheci, lembro-me de sempre ter uma postura diferente. Tinha eu pouco mais de 10 anos quando numa noite de Agosto me explicou as estrelas com uma simplicidade e sabedoria que ainda hoje sei algumas das coisas que me ensinou nessa lição.

As suas palavras e actos sempre causaram uma concreta impressão em mim. Tenho ideia de, desde muito cedo, tomar a decisão de o tomar como modelo a admirar e seguir... na medida do possível. Hoje, mais do que nunca, lamento não ter conseguido ser mais perseverante nesse propósito... sobra-me o tempo que me resta para honrar este compromisso de mim para mim.

O que sempre deste Homem digo é que se trata de alguém que conseguiu algo de absolutamente único. Físico, Filósofo e Padre... sem qualquer ordem, porque o que, de facto, foi o seu trabalho foi o aprender, pensar e ensinar Sabedoria... na linguagem simples de quem sabe e quer dar a saber.

De tudo quanto tive a honra de aprender com o Pe. João Resina algo me marcou especialmente mais pela simplicidade do que, infelizmente, pela eficácia: pedi-lhe um dia que me ensinasse a ser humilde como ele. A resposta foi: “Sabe, a Humildade não é uma qualidade é a Verdade.”

Aprendi muito com o que vi e ouvi... mas tenho ideia de que, com verdade, muitos são os que, muito mais do que eu, com ele aprenderam... nunca assisti a uma sua aula de Física, nem de Filosofia... sei que ajudou muitas pessoas, muitas mesmo, até onde as suas forças o tornaram possível e nos lugares e tempos em que Deus dele precisou para realizar a Sua obra. Sinto que estarei a anos-luz (!) de ter ideia da grandeza deste Homem que, estou certo, sempre se esforçou por fazer da sua vida uma Obra, e assim, um Caminho a seguir...

Inteligência raríssima, determinação paciente e infatigável, deu a sua vida para que outros cumprissem aquilo que considerava um dos primeiros Mandamentos: Ser Feliz!

O Padre João deu-me a Honra de ser meu amigo, de se preocupar de forma tão subtil comigo que nunca, com toda a certeza, encontrarei ninguém semelhante, nem, por mais que tente – e tento, conseguirei replicar em outrem esta forma de ser.

Uma vez desafiei uma professora de Português a dar-me a conhecer o mais forte de todos os adjectivos da Língua Portuguesa... demorou, pediu para me dar resposta na aula seguinte... até que com um sorriso me disse: “Inadjectivável” era a palavra que procura.

O Padre João Resina é inadjectivável.

Gostava de ser capaz de escrever um texto à sua altura, mas pelo menos fica uma palavra.

...

Acredito na ressurreição e em que lhe vou dar um grande abraço!!!

Até lá espero viver o que me ensinou.

Monday, May 24, 2010

Dias Tristes são lugares Sagrados


Existem muitos lugares sagrados. Uns mais acessíveis do que outros. Vivê-los é estar neles de alma e coração. Lugares onde não é necessariamente verdade que haja um momento de uma qualquer espécie de iluminação, muitas vezes o momento é de tristeza, uma queda na realidade, um serviço que o lugar nos presta por nos colocar exactamente no nosso lugar, sem mentiras, máscaras nem demais artifícios da arte da fuga que cada vez é mais cultivada.

Ir hoje a uma igreja é sinónimo de lá encontramos quem somos, ao mesmo tempo que estar diante de Alguém que nos conhece bem... Aquele que conhece todos os nossos caminhos...
Muitas são as vezes que prefiro não ir lá. Como se a vida não vivida, a mentira em que me enrolo, fosse mais valiosa que a verdadeira realidade... que pena não ter a força de quem sabe não se deixar enganar a si mesmo.

Um lugar sagrado é antes de tudo um sítio em que assumimos quem somos, no conjunto de todas as dimensões que a compõem. Em dias como os de hoje, sinto que Deus – qualquer que seja a forma como O concebamos, nos solicita a presença mais por nós, por aquilo que conseguiremos ganhar, do que por Ele.

Uma última palavra para a tristeza, que tantas vezes exalto: é um estado de alma mais denso e puro do que suspeitamos. É mais real. Fugir dele será fugir do duro caminho que nos fará caminhar felizes.

Thursday, May 20, 2010

Em nome de um grande amigo



Tenho já muitos anos. Não te iludas: não estou ainda bastante fraco para ceder às imaginações do medo, quase tão absurdas como as da esperança e seguramente muito mais penosas.

Se fosse preciso enganar-me a mim mesmo, preferia que fosse no sentido da confiança; não perderia mais com isso e sofreria menos.

Este fim tão próximo não é necessariamente imediato; ainda aceito cada noite com a esperança de chegar à manhã seguinte.

Adentro dos limites intransponíveis de que te falei há pouco, posso defender a minha posição passo a passo e recuperar mesmo alguns milímetros do terreno perdido.

Não deixo por isso de ter chegado à idade em que a vida se torna, para cada homem, uma derrota aceite. Dizer que os meus dias estão contados não significa nada; sempre assim foi; é assim para todos nós.

Mas a incerteza do lugar, do tempo e do modo, que nos impede de distinguir bem o fim para o qual avançamos sem cessar, diminui para mim à medida que a minha doença mortal progride.

Qualquer pessoa pode morrer de um momento para o outro, mas o doente sabe que passados dez anos já não será vivo.

Penso que enquanto se está vivo há um propósito, o meu, agora, julgo ser o de mostrar a todos que se pode ser alguém mesmo depois da doença chegar para não mais partir... o de vos mostrar que os velhos e os doentes não são trapos. E quando chegar a vossa vez, não vos deixes substituir... Sede o que são até ao fim. Não há dignidade no acto de desistir.

No fundo do meu e do teu coração reside um pedaço de Deus que nos garante que ainda nos encontraremos numa outra vida: aquela que vale a pena, a que vale tudo - é Eterna... e lá nos encontraremos.


Padre João: Força bom mestre!

Tuesday, May 11, 2010

Onde mais sou



Surge-me por vezes a necessidade de fazer uma viagem um pouco mais longa, uma peregrinação pelo interior do meu eu. Começo por progressivamente me ir largando de amarras aos pormenores quotidianos... quase sempre de súbito, sinto-me mergulhar numa espécie de poço do que sou. Sem vertigem mas a uma velocidade limite, são apenas uns segundos até que... até que atinja o fundo. O fundo de mim. O fundo do tal poço que afinal, descubro logo de seguida, é o topo de uma torre que se ergue numa planície imensa. Não é um deserto, mas também não é uma cidade... A torre altíssima permite-me sentir a minha cara ser tocada pelos 4 ventos... o Sol está-me mais próximo e consigo escutar o seu labor de luz... Estou completamente só, sem saída, nem ideia de como ali cheguei, mas... não sinto qualquer temor... há ali a paz pela qual todos rezamos. É precisamente ali que se sente o que nos faz transbordar de alegria, o que em nós nasce para nos preencher, o que torna real o sonho de completude...

Depois como que começo a escutar uma tempestade ao longe, sempre primeiro os relâmpagos e depois, a princípio muito depois, os trovões. A sua força faz adivinhar a sua missão... devolver-me ao mundo do dia-a-dia... assim, e sem sobressalto apesar da forte tempestade que se aproxima, despeço-me com olhar generoso de todos aqueles meus horizontes... sinto-me elevar da torre – de súbito tenho os pés no fundo de um poço que me é tão familiar... sem grande esforço dou-me um impulso que me faz voar até à superfície de onde havia partido há poucos minutos.

São sempre longas estas minhas incursões... não no tempo nem no espaço – duram poucos minutos e, de facto, nem chego a mexer-me... mas consigo chegar lá onde sou mais eu mesmo... onde sou o que sou. Sem máscaras, sem medos e sem pressas...

Saturday, April 17, 2010

Do eu


Nos tempos “livres” leio Filosofia, leio filosofias, faço-o com gosto. Textos de referência que ainda não tinha lido e novas obras... tento acrescentar algo ao que sei, ora com textos antigos ora mais moda-rnos...

A Filosofia é um caminho em espiral em busca dos contornos. Aproximação sucessiva, prudente e sólida que visa uma melhoria constante da capacidade de ser. Até ao ser autêntico. Ao Ser.

Está a Filosofia cada vez mais analítica. Hoje há uma grande corrente de gente que segue as linhas de Wittgenstein e B. Russel... onde perseguem um ideal de objectividade para a Filosofia ao nível das Engenharias.

Prefiro textos que me falem dos problemas que me tocam. Afinal, a diferença da Filosofia em relação aos outros saberes é a sua capacidade de falar ao e do eu (sim, por vezes dói). Efectivamente, alguém mo disse, a Filosofia ajudar-te-á na tua vida concreta. A tua vida será melhor – prometeu-me.

A Filosofia será pois a raiz e o fruto de todos os saberes, desde os dos zeros e uns aos dos espíritos religiosos. É o lugar onde se devem procurar causas primeiras e efeitos últimos. Não se deve ocupar do que é, mas sim do que deve ser. Um misto de sonho sério e arquitectura íntima.

Mas há já muito poucos que estão à altura da herança filosófica milenar. Podem dividir-se os seus trabalhos entre manuais de linguagem de vanguardista programação informática aplicada ao pensamento e alguns, muito menos – mas igualmente perigosíssimos, livros de, assim se convencionou chamar-lhes (até me custa a escrever:) “auto-ajuda”. Confesso que experimentei ler um e me bastou. Festival de banalidades, como se se pegasse numa herdada peça de ouro e a derretessem para colorar milhares de peças de pechisbeque.

Sempre preferi linhas de pensamento mais verdadeiro por mais íntimo e subjectivo, numa ideia simples: no fundo, somos todos iguais – a mais profunda subjectividade é um caminho objectivo para A Verdade.

Tenho preferido escritores, criadores que contam as suas histórias, que serão sempre e só auto-biográficas... porque me parece que escrever é descrever-se... e por aí se caminha para mais perto do essencial... e ao abrigo de escorregadelas para os escaparates dos hipermercados.

De vez em quando gosto de me (d)escrever.

Sunday, January 10, 2010

João Manuel


João Manuel, o homem que fez chover.

Ele sonhou, acordou e decidiu-se.

Lançado por si mesmo para o aquele empreendimento, dispôs-se a tudo.

Com a luz do sol ou da vela trabalhava montando as peças que tinha percorrido longos caminhos para encontrar. Montava aquela enorme e confusa máquina... - sem um esboço de papel.

Tinha-a completado!

Colocou-a em cima de uma carroça que dois fortes cavalos puxaram até ao cimo do monte.

No cume verificou que o sol já estava a desaparecer e que era imperioso esperar pela manhã... - o sol era fulcral.

Já noite e sem porquê trouxe cavalos e carroça para o vale de sua casa, depois despiu-se, e nu... subiu o monte até junto da sua máquina.

Esperava pelo sol, com um sorriso nos lábios, quando lhe veio à ideia que a máquina não tinha qualquer interruptor... não tinha feito nenhum mecanismo que pudesse controlar a máquina e nem sequer se tinha lembrado de como poderia ligá-la... desesperou!

Lembrou-se de que no seu sonho também não havia qualquer botão... sorriu!

Com o sol veio a chuva e o João Manuel morreu feliz... agarrado à máquina.

Nunca ninguém mais viu o João Manuel ou a máquina.

Ele levou-a consigo.