Saturday, December 08, 2007

A Felicidade e a aparência dela.


O conceito de Felicidade é tomado por quase todos nós como o corolário da existência humana. Rara é a pessoa que não afirma que “quer ser feliz”.

Todavia, a Felicidade acaba por ser definida como um estado alcançável através da realização dos sonhos.

Mas, verdade é que a natureza humana contém na sua essência uma incompletude permanente. O Homem é um sonhador - diz-se. É antiga a teoria do perpétuo, por alguns chamado de Donjuanismo, aquela que afirma uma primazia absoluta da conquista sobre a manutenção do alcançado. Prefere-se sonhar, lutar pelos sonhos, alcançá-los e... Sonhar mais e lutar ainda mais para o alcançar, alcançá-lo e... Sonhar mais e mais...

Como se o alcançado, sem sofrer nenhuma outra mutação senão a de ter sido conquistado de facto, perde-se a aura mágica que o envolvia enquanto o Homem lutava por ele, ficando sem graça.

Ora, tal coisa só pode ser própria de quem realmente não quer mesmo ser feliz.

Há que parar e pensar se estaremos neste ciclo tão infindável quanto frustrante. Pois se o Homem tem consciência deste seu perpétuo desejar, porque não se dará conta de que é, na verdade, um caminho que leva a lado nenhum, menos ainda à felicidade?

Mas haverá outro caminho?

Julgo que sim. Por não mais que uma atitude empenhada em ser feliz, concentrar a atenção no que se é, no que se tem, desvelar-lhe o que de precioso há nele, e amá-lo, quere-lo, usufruir. Afinal, quem se permite a vida de sonhador, será desgraçado quer concretize os seus “sonhos” quer quem não o alcance.

Muitas são as vezes que se busca prazer, poucas aquele que vale de facto o bem que causa. Tomemos a distinção do prazer que se obtém pelo orgasmo daquele outro que se alcança da contemplação de um sorriso sincero de uma criança. Que os distingue? Algo que não o prazer... Será que há quem tenha consciência da tão profunda quanto importante diferença? Certamente que sim. Qual será a razão que justifique que se atribua o mesmo nome a sensações tão díspares? Porque não se busca o profundo e se prefere o superficial?

A existência humana encontra-se desde sempre sob a égide de uma mentir, facilmente desmontável com a aplicação da mínima racionalidade para a desmascarar... Talvez porque a máscara nos é agradável? Ou será que, no fundo, preferimos ser infelizes? - justificando assim na vida algo que nos é evidente como merecido no íntimo.

O sonho comanda a vida por trilhos que não a levam ao seu destino. A felicidade é de quem consegue compreender quem é e se encanta pelo tão simples quanto generoso dom da vida.

Muitos, tantos..., tomam a felicidade como se se tratasse de uma terra longínqua a que interessa, por todos os meios chegar... MAS, e se a felicidade fosse uma forma de viajar nesse planeta onde os outros buscam a terra dos sonhos?

Sim, o contra argumento mais do que expectável para esta tese é a de que o seu autor, no caso - eu, não é alguém feliz. Pois sim, tenho muito da minha vida já vivida entregue às mãos da infelicidade, e nisto não sou nem mais nem menos que todos os demais... No entanto, tenho sido capaz de seguir o que aqui prego e ser feliz. Talvez não tantas as vezes quanto me é possível... Não é fácil lutar contra esta natureza humana que teima em querer o que não se é ou tem. Oh, mas tenho sido feliz, e acredito que muito mais que a multidão com quem me cruzo na vida. No ponto mais íntimo da minha intimidade reside uma luz que faz de mim um ser Feliz. E por ser feliz, mais feliz sou.

É dado a todo o Homem ser feliz, à partida, sem qualquer outra luta senão aquela que se deve ter no momento em que na sua consciência assomam ideias de sonho...

Afinal, cada Homem é o que lhe fica depois da sua morte, tudo o que esta pode afectar é superficial, uma felicidade que não o é de facto...

Se me deu a honra de ter lido este texto até este ponto... Obrigado e Seja Feliz... JÁ.