Saturday, November 17, 2007

MMN


Procuro ser feliz, sou eu. Tento respeitar as pessoas, principalmente os que não têm nada de “respeitável” aos olhos da multidão... também me é reconhecido algum mérito na loucura com que encaro certos momentos da vida... pois... há quem diga que é uma doença qualquer que me leva a ser um desequilibrado para a originalidade, outros simplesmente sorriem sem saber o que pensar nem que dizer... sinceramente, há dias em que eu próprio me apelido de “um bocado parvalhão”! hoje deu-me para publicar aqui a minha ideia de MMN...

Sempre considerei o natal um tempo especial. Ao considerá-lo como um tempo claro que estou a integrar os largos dias que o antecedem. Tenho ideia que é tempo de milagre. Podia chamar-lhe magia de natal, mas parece-me bem mais adequada a designação de milagre(s).

Ora, também não é de hoje que me julgo como alguém de quem Deus espera umas coisas, nomeadamente que ajude os outros homens e mulheres que estão no mundo comigo. É curioso que por vezes sinta que Deus me anda a “chatear” para fazer determinada coisa...

Hoje, estava eu na Igreja – por ter ido levar a minha filha para a catequese, quando dou por mim a desatinar com o já citado Sr. do Andar de Cima (gosto de pensar em Deus assim!!!) sobre a eventualidade de publicar aqui no blog a razão deste texto.

Bem, e sem mais entretantos, no mês de Dezembro sinto que devo fazer uns quantos gestos que – se bem feitos – serão considerados pelos visados como milagres, uma vez que importa não deixar rasto... o que até torna a coisa bem mais engraçada!

Até ao natal tratarei de fazer, pelo menos um, destes milagres.

E o meu desafio é que os leitores do meu blog o façam também...

Algumas pequenas regras:
  1. Deverá ser algo significativo para a pessoa que o recebe.
  2. Devo procurar apurar o sentido de necessidade, i.e. não contam os actos de instinto / momentâneos, é preciso que seja algo minimamente pensado e preparado.
  3. Tentar por todos os meios que haja o mínimo de possibilidades de o acto remeter para a minha identidade, i.e. não devo deixar rasto pelo qual a pessoa possa saber que fui eu...
  4. Não contar a ninguém o que realmente fiz.

Se pensarem bem não é assim tão difícil, nem tão fácil, quanto parece. Nunca fiz nenhum destes MMN (Meus Milagres de Natal) à espera de uma retribuição qualquer, sinceramente nunca cobrei nada a ninguém, nem tão-pouco ao Sr. do Andar de Cima... isto ainda é mais estranho porque sou uma pessoa algo egoísta, e quem me conhece sabe que não sou nada santo, muito menos desprendido de tudo.

Os MMN sempre me deram no momento a sensação de dever cumprido e a felicidade por ter concretizado algo que me diz profundamente respeito. Isto é de tal forma que me chego a questionar se não terei uma qualquer sentido pagão/ateu de encarar este gestos!! Os MMN são de mim para mim.

Claro que para ser algo bem feito deve envolver um certo custo, mormente o da pessoa que o protagoniza sacrificar um pouco o seu umbiguismo inato! Mais, há também que ultrapassar um factor que sinceramente no qual tropeço várias vezes: o acto é isolado, logo, que diferença fará? A esta questão tento sempre dizer que a mais significativa distância a percorrer é o 1º passo, o que nos tira da imobilidade. Mas além deste argumento há um sem número deles que nos tentam desviar do nosso projecto MMN.

Talvez este texto seja apenas motivado pelo meu umbiguismo... com certeza que se ninguém de vós aceitar este meu desafio de fazerem um MMN terá sido em vão... pior, terá sido supremamente umgiguista, na medida em que ficarei bem visto por... sei lá... por isso mesmo.

Era bem engraçado saber que a minha vontade e “experiência” neste campo dos MMN fosse seguida por alguém... mas... estou absolutamente certo que certamente alguém vai acreditar na minha palavra: Vale a pena! Daí até fazer qualquer coisa, pois, isso vai ser uma luta “dos diabos”!!!

Uma certeza: quem o fizer ficará super-feliz consigo mesmo.

Um pedido: que o Sr. do Andar de Cima ajude que resolver entrar na onda do MMN.

Então...

Que acham?

(para esclarecimento de qualquer dúvida, deixe mensagem após o sinal!!)


Sunday, November 11, 2007

Alfredo


Alfredo era adolescente quando ficou em casa sozinho durante um mês... os seus pais e irmão tinham ido passear para o estrangeiro... os seus poucos amigos tinham acompanhado as suas famílias nas férias... a sua namorada tinha-se apaixonado por outro e tinha acabado o namoro... Alfredo estava sozinho.

Cozinhava para si... lavava a loiça, a roupa e todo o resto de coisas que temos de fazer quando estamos sozinhos em casa...

Nos primeiros dias começou por usufruir de certas vantagens de estar sozinho... ouvia música no volume mais alto possível... via filmes até de madrugada... por vezes saía e ia até uma discoteca onde bebia álcool, muito álcool... etc....

Ao fim de 15 dias parou um pouco... desligou tudo e ficou em silêncio de frente para um espelho... olhou-se e começou a pensar que estava triste e que essa tristeza era, talvez, muito mais profunda do que aquilo que ele julgava antes... A ideia que lhe subiu à cabeça foi a de que a solidão é inimiga do coração, e que o profundo chorar que lhe ecoava do íntimo era fruto dos diferentes condicionalismos externos... estava só... e isso provocava nele tristeza...

Olhando-se sempre no espelho continuava a pensar na miséria do mundo, na tristeza de tantos homens sem pão, sem casa, sem família... sem nada... pensou nas guerras e nas catástrofes naturais... pensou na morte... a morte assustava-o só de ele a pensar...

Parou um pouco, olhou em redor de si e com um sorriso olhou-se no espelho e disse para consigo mesmo:

- Alfredo... estás vivo, tens o que comer, tens pais, nada te falta a não ser um pouco de companhia, de alguém com quem conversar aqui e agora... uma rapariga talvez... ou se calhar bastava-te um amigo... ou até mesmo o teu pai ou a tua mãe... se só te falta isso, não achas que deves estar feliz, pois afinal... afinal até tens com quem conversar: contigo mesmo... e como precisavas de falar contigo, com esse teu amigo tão grande e que sempre esqueceste!!!

E ficou a olhar durante muito tempo para aquele espelho que lhe mostrava aquele que ele sabia ser o seu melhor amigo e que só agora o descobrira...

Pensou depois na vida... e na morte, chegou à conclusão que ele não detinha a sua própria razão de ser... não era responsável pela sua existência... Pensou em Deus, e logo Lhe agradeceu o que segundo Alfredo era a Ele devido... ou seja... a vida, o pão, a casa... e o mais importante... este amigo que ele descobrira ter e ser esse o alguém que sempre procurou... Agradeceu a Deus o ter-se encontrado...

Não mais teve medo da morte, pois tinha como seus melhores amigos duas pessoas importantíssimas para ele... Deus e ele mesmo.

Acabou por deixar o espelho... e não sabendo muito bem o que fazer, pois o que acabara de descobrir era demasiado importante e não tinha aplicação prática ali e naquele momento... O que é que o Alfredo ia fazer?

Foi fazendo as tarefas que quem está sozinho em casa tem que fazer... mas não precisava mais de televisão nem de álcool pois os seus dois amigos mais importantes e curiosamente mais recentes chegavam-lhe... E foi assim que passou os 15 dias... conversando consigo mesmo... com Deus... e como eram afinal três, era muito engraçado o que acontecia quando havia um diálogo a dois e o terceiro escutava... era engraçado pois o terceiro era o mais importante... ouvia a discussão dos outros dois e aprendia a julgar, pois acaso houvesse um empasse no diálogo era chamado a intervir...

Mais engraçado ainda era quando o diálogo era a três... Era preciso uma ginástica de campeão olímpico para se ser sério e conversar de facto...


No último dia de férias dos seus pais, e por conseguinte, o seu último dia a sós... levantou-se e pensou o que iria acontecer no dia seguinte... Lá conversou com os seus dois amigos e ficou resolvido que o que de melhor havia a fazer ali e naquele momento era limpar a casa toda muito bem... preparar um grande bolo para festejar as boas-vindas dos pais e irmão... e com o dinheiro que conseguiu poupar, dado a sua descoberta a meio das férias, comprar alguns presentes para todos...

Assim fez...

Todos ficaram radiantes...

A partir desse dia viveu sempre em conformidade com a decisão democrática do conselho dos três amigos... Ele, ele e Deus.

Teve uma vida esplêndida... e quando já estava muito velho declarou aquela que viria a ser a sua última comunicação no conselho dos três amigos...

O que aprendi com a vida é que nas decisões tomadas por unanimidade tudo correu bem na prática... ou pelo menos a intenção era a melhor independentemente da concretização material do que se queria...

Quando um dos Alfredos perdia e a outra parte ganhava, as coisas corriam bem mas podiam correr melhor...

Quando era Deus que ficava a perder na votação...sempre foi trágico.

Por tudo isto, e que não é nada pouco, quero que aqui fique assente que o Alfredo é um bom amigo mas que nós os dois sem Deus somos demasiado pequenos e estúpidos... pois julgamo-nos detentores da verdade e grandes pois podemos decidir o que queremos... mesmo contra a vontade de Deus...

Quero pedir desculpas a Deus, pois o que sei hoje é que a riqueza da vida se obtém quando há diálogo Contigo... e que somos estúpidos quando Te achamos errado...

Estava quase a sucumbir quando disse as suas últimas palavras:

Deus... em verdade e com clareza vejo... agora mais do que nunca... que Eu sou um pouco de Ti... um outro eu... Teu... Um deus pequeno que és Tu e que pode falar sozinho... Era tão bom que todos os homens percebessem que são o reflexo no espelho... e o que é um reflexo no espelho... nada é, se nada estiver virado para ele...

Muitos são aqueles que se procuram no reflexo do seu reflexo... a esses peço-Te, oh Deus, que lhes dês um espelho como fizesTe comigo...


Morreu tremendamente feliz... pois tinha em si a sua razão de ser, Deus... e... missão cumprida... voou até Ele...

Sunday, November 04, 2007

Belarmino


Belarmino era casado e tinha dois filhos, eram emigrantes num país qualquer...

Haviam-se estabelecido há vários anos, e tudo corria mais ou menos bem, quando rebentou uma revolução e o poder se tornou despótico, tendo como linha de força a exploração dos estrangeiros...

Belarmino e a sua família suportaram a submissão própria de uma escravatura até que um dia ele resolve comunicar aos seus o seu desejo de fugir... Todos sabiam que a fuga lhes podia valer ou a liberdade ou nada... e isto invadiu-lhes o espírito durante dias: ou a liberdade ou nada... até que um dia... o dia marcado, tudo estava pronto, ou melhor, todos estavam prontos, dado que não pensavam levar consigo mais do que a vontade da liberdade e a roupa... O plano era simples: tentar passar a fronteira a pé, correndo, fugindo aos mais do que prováveis tiros das tropas daquele país...


Chegaram ao fim da rua, a fronteira estava a cerca de 200 metros... tão perto e tão longe... O filho mais novo disse então:

- Vamos! Ou a liberdade ou nada!

A mulher de Belarmino chorava... O filho mais velho cerrava os lábios... tudo estava pronto...

Belarmino dá então a ordem de que seria daí a um minuto que correriam tanto quanto as suas pernas o permitissem... E que minuto tão grande... o maior que já tinham vivido...

30 segundos... nem lágrimas nem mais nada a não ser a vontade de ferro de ou liberdade ou nada...

5... 4...3... 2...1... JÁ!

E toda a família começou aquela corrida para a liberdade... começaram-se a ouvir tiros e tiros, e a família começou por perder a mãe que tinha sido o primeiro alvo bem sucedido duma qualquer espingarda, depois o filho mais novo... o mais velho e Belarmino corria sozinho, faltavam poucos metros... 3 ou 4 ... parou, levantando os braços em sinal de rendição... Os outros morriam e Belarmino de braços no ar... Rapidamente os tropas mataram toda a família à excepção de Belarmino que se havia rendido... Algemaram-no e bateram-lhe... muito!

Já no calabouço partilhado com ratazanas Belarmino chorou, chorou tanto, que não podia mais...

Não era pela sua família ter morrido... era por ele a ter desiludido... pois tendo sido o único a ter a possibilidade de liberdade não o tinha tentado até ao fim... e não sabia porquê... Agora e alí, nem liberdade nem nada... a sua família tinha alcançado o nada, ele nem uma coisa nem outra...

Remorso, arrependimento... não era nada disso, era a aterradora sensação de ter sido sentimentalmente cobarde, de estar perto e desistir...

Quando dormia sonhava sempre com o mesmo:... o filho mais novo a dizer: - Vamos! Ou a liberdade ou nada! e acordava sempre sentindo que o facto de se ter rendido, o facto de levantar os braços no momento em que o fez... o fizera perder toda a dignidade e razão de ser pai e marido... pois ele traiu os seus nesse preciso momento.

Anos mais tarde foi condenado por razões irracionais a ser fuzilado... e o seu último pedido foi o de poder ser abatido de costas e de braços ao alto... os únicos momentos em que viveu feliz foram os que se seguiram ao seu pedido ser aceite e que terminaram quando todas as balas lhe entraram dentro...