Monday, June 26, 2006

Esboço de uma teoria sobre o Amor e a Morte



Amar é: Ser generoso, Servir, Trabalhar sem procurar descanso, Lutar sem cuidar das feridas, Gastar-se, enfim, Dar-SE


Partindo do pressuposto que o amor é dar-Se (tendo como sentido/sentimento o oposto ao egoísmo) pode considerar-se que a morte apenas põe termo à existência corporal-visível, mas não com a presença efectiva neste mundo.

Se A ama B, então B acaba por tomar A em si, passando a ser uma fusão do que era com a substância do amor de A - um BA - e quando este último amar, dar-Se-á como BA, pelo que, ao amar um C estará a perpetuar a existência de A em C, teremos pois um CBA.

Só morrem aqueles que amamos. Afinal, não tem para nós significado a morte do anónimo. Os que amamos sim, esses morrem, pese embora ser a estes que é mais difícil de atribuir a categoria de mortais. Por outro lado, são os que nos amaram que nunca desaparecem, vivem em nós, connosco... enfim, somo-los. Só há perda quando houve laço, e este, apesar de muito nomes - Admiração; Alegria; Amizade; Atenção; Bondade; Caridade; Compreensão; Empatia; Interesse; Fraternidade; Respeito; Solidariedade; Tolerância; Voluntariado, etc. ...é sempre Amor.

É errado pensar que aquele que nos amou morreu, pois é precisamente no momento da sua "perda" que tal pessoa nos aparece, no fundo de nós, como uma absoluta presença.

Cada um de nós traz no fundo de si um pequeno cemitério daqueles que amou, mas também somos todos aqueles que nos amaram, senão repare-se quantos são aqueles que vêem desvanecer os defeitos dos seus entes queridos que faleceram, ao mesmo tempo que florescem, quase como se as sementes lá jazessem há muito, as suas virtudes brilham no jardim da sua recordação.

Diz Guidicelli:
Morto há um ano, o meu pai é um jovem cadáver que vejo crescer dentro de mim.

Mas eu também morro antes do meu tal dia, pois se vir partir alguém por mim amado... lá se vai um pouco de mim.

Morremos sim, mas aos poucos.



2 comments:

Anonymous said...

Gostei muito deste "Esboço", muito profundo. Lembrei-me de todos os bocadinhos que me constituem.

Anonymous said...

Gostei imenso deste "Esboço2, nunca tinha pensado nas coisas desta maneira! :)