Era uma vez... Um grupo de homens que tendo ido passear pelas montanhas resolveram parar no cimo da montanha mais alta, mesmo no cume...
De súbito, um dos homens, o André, perguntou aos outros o que viam, apontando para toda a região que se estendia até ao infinito, os outros deram respostas que ora era um vale, um bocado de terra, uma paisagem bonita, etc. Depois perguntaram ao André qual seria a sua resposta, ao que este respondeu: "Não sei."
Findo o período de descanso, todos se ergueram, menos o André, que permaneceu serenamente a olhar a região que se estendia na sua frente... os outros então disseram-lhe que iriam partir, e que se ele estava tão apaixonado por toda a paisagem, o melhor seria ir visitá-la com eles... mas o André ficou, pois tinha ficado estupefacto quando se apercebeu que não percebia o que era aquilo que se estendia na sua frente.
Na sua cabeça reinava a pergunta: "O que é isto?", e as respostas pairavam descontroladas: "É um vale", "È um bocado de terra", "É uma paisagem", "São árvores e lagos e campos e...". "O que é isto?" não tinha uma resposta, não tinha muitas, não tinha resposta.
Decidiu ir ao encontro dos seus companheiros de viagem... e quando se aproximou deles logo lhe perguntaram: "Então qual é a resposta, já a sabes?". Ao que André permaneceu em silêncio... os companheiros insistiram, mas ele também.
Não passou muito tempo até que o André resolvesse voltar ao cume da montanha... Despediu-se dos outros e caminhou para lá...
Sentou-se confortavelmente e pôs-se a ver "tudo aquilo"...
Algum tempo depois colheu uma flor e viu o "tudo aquilo" na flor... O que era afinal o "tudo aquilo", que estava na paisagem, na flor e depois até num cabelo dos seus???
A resposta a si mesmo foi pronta e esclarecedora:
"- André, não há resposta para perguntas realmente sérias, és um homem e deves conformar-te com estas coisas."
O André aprendeu então a olhar para tudo aquilo, encontrando o "tudo aquilo" em tudo... e sempre a fazer perguntas, com as quais não se preocupava em andar à procura das respostas... Estava feliz... Teve entretanto pena dos seus amigos, pois estavam a perder tudo aquilo que ele vivia, agora tão intensamente.
Alguns dias depois, encontrarem-se todos e começaram a trocar as experiências da viagem... Um amigo começou por dizer ao André o que ele não vira... aquele lago, que do cume da montanha parecia uma simples poça, era na verdade grande e bonito, tinha peixes às riscas, nas margens havia uma plantas curiosas e havia até formigas de uma cor que ninguém soube explicar, etc.
André sorria-lhes, e eles acabaram por ficar tão indignados, que lhe perguntaram porque sorria. E disse:
"- Vocês viram tudo isso, mas precisaram de andar muito, de se cansarem ainda mais, e no entanto, eu, lá de cima, vi tudo isso que vocês não viram... É que quem olha para o chão também consegue ver as estrelas, assim como de noite se pode ver o sol... Conhecer uma pedra é ter a percepção imediata da sua natureza íntima... que é a mesma para tudo, o ser."
Um deles interrompeu-o:
"- Mas responde-me lá à pergunta que a todos fizeste, o que é tudo aquilo???"
O André ficou um tempo em silêncio e por fim disse-lhes:
- A minha resposta é o silêncio...
- O quê? tens de definir.
- ... ... ... É que se eu definir qualquer coisa, já a estou a privar de aspectos que essa mesma coisa possivelmente também é... e como um todo só se deixa definir nas suas partes constituintes, logo se defino algo, também tenho que definir o todo onde se definiu a coisa, e o todo onde está o todo em que está a coisa, e daí por diante..."
Os amigos levantaram-se e foram embora. Alguns deles, dias depois, foram sentar-se no cume da montanha, mas nunca nenhum deles viu o mesmo que o André...
Nunca mais ninguém soube que o André se tornara num homem muito feliz, e isso desde o momento em que percebeu que as perguntas realmente sérias não têm resposta, ou melhor, até têm... só que não é para os homens compreenderem...
Morreu anos mais tarde...
Só depois disso compreendeu tudo o que há para compreender...
De súbito, um dos homens, o André, perguntou aos outros o que viam, apontando para toda a região que se estendia até ao infinito, os outros deram respostas que ora era um vale, um bocado de terra, uma paisagem bonita, etc. Depois perguntaram ao André qual seria a sua resposta, ao que este respondeu: "Não sei."
Findo o período de descanso, todos se ergueram, menos o André, que permaneceu serenamente a olhar a região que se estendia na sua frente... os outros então disseram-lhe que iriam partir, e que se ele estava tão apaixonado por toda a paisagem, o melhor seria ir visitá-la com eles... mas o André ficou, pois tinha ficado estupefacto quando se apercebeu que não percebia o que era aquilo que se estendia na sua frente.
Na sua cabeça reinava a pergunta: "O que é isto?", e as respostas pairavam descontroladas: "É um vale", "È um bocado de terra", "É uma paisagem", "São árvores e lagos e campos e...". "O que é isto?" não tinha uma resposta, não tinha muitas, não tinha resposta.
Decidiu ir ao encontro dos seus companheiros de viagem... e quando se aproximou deles logo lhe perguntaram: "Então qual é a resposta, já a sabes?". Ao que André permaneceu em silêncio... os companheiros insistiram, mas ele também.
Não passou muito tempo até que o André resolvesse voltar ao cume da montanha... Despediu-se dos outros e caminhou para lá...
Sentou-se confortavelmente e pôs-se a ver "tudo aquilo"...
Algum tempo depois colheu uma flor e viu o "tudo aquilo" na flor... O que era afinal o "tudo aquilo", que estava na paisagem, na flor e depois até num cabelo dos seus???
A resposta a si mesmo foi pronta e esclarecedora:
"- André, não há resposta para perguntas realmente sérias, és um homem e deves conformar-te com estas coisas."
O André aprendeu então a olhar para tudo aquilo, encontrando o "tudo aquilo" em tudo... e sempre a fazer perguntas, com as quais não se preocupava em andar à procura das respostas... Estava feliz... Teve entretanto pena dos seus amigos, pois estavam a perder tudo aquilo que ele vivia, agora tão intensamente.
Alguns dias depois, encontrarem-se todos e começaram a trocar as experiências da viagem... Um amigo começou por dizer ao André o que ele não vira... aquele lago, que do cume da montanha parecia uma simples poça, era na verdade grande e bonito, tinha peixes às riscas, nas margens havia uma plantas curiosas e havia até formigas de uma cor que ninguém soube explicar, etc.
André sorria-lhes, e eles acabaram por ficar tão indignados, que lhe perguntaram porque sorria. E disse:
"- Vocês viram tudo isso, mas precisaram de andar muito, de se cansarem ainda mais, e no entanto, eu, lá de cima, vi tudo isso que vocês não viram... É que quem olha para o chão também consegue ver as estrelas, assim como de noite se pode ver o sol... Conhecer uma pedra é ter a percepção imediata da sua natureza íntima... que é a mesma para tudo, o ser."
Um deles interrompeu-o:
"- Mas responde-me lá à pergunta que a todos fizeste, o que é tudo aquilo???"
O André ficou um tempo em silêncio e por fim disse-lhes:
- A minha resposta é o silêncio...
- O quê? tens de definir.
- ... ... ... É que se eu definir qualquer coisa, já a estou a privar de aspectos que essa mesma coisa possivelmente também é... e como um todo só se deixa definir nas suas partes constituintes, logo se defino algo, também tenho que definir o todo onde se definiu a coisa, e o todo onde está o todo em que está a coisa, e daí por diante..."
Os amigos levantaram-se e foram embora. Alguns deles, dias depois, foram sentar-se no cume da montanha, mas nunca nenhum deles viu o mesmo que o André...
Nunca mais ninguém soube que o André se tornara num homem muito feliz, e isso desde o momento em que percebeu que as perguntas realmente sérias não têm resposta, ou melhor, até têm... só que não é para os homens compreenderem...
Morreu anos mais tarde...
Só depois disso compreendeu tudo o que há para compreender...
2 comments:
O meu filho chama-se André!
Olha, fiz publicidade ao teu e-mail das receitas do mundo... http://totodacabeca.blogspot.com/2007/05/receitas-do-mundo.html
Abraço amigo!
«Recordo-me de um conto de Eduardo Galeano, no Livro dos Abraços, sobre o pequeno Diego, que nao conhece o mar. Um dia, o pai leva-o à praia: "E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de formosura. E quando por fim conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: -Ajuda-me a olhar."»
A Lua Pode Esperar, Gonçalo Cadilhe
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